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A Bolha da IA Não é a IA; É o Jeito que Estão Pagando por Ela

Howard Marks diz que IA virou objeto de entusiasmo enorme e que, se esse entusiasmo não virar uma bolha dentro do padrão histórico, seria inédito.
Imagem: ilustração representando a bolha das ações de IA. (Syfe)

Tem uma frase que eu vi circular essa semana e que, se você entende minimamente de mercado, ela gruda na cabeça como chiclete em sapato caro: “se o entusiasmo com IA não gerar uma bolha, será a primeira vez.” 

Isso não é tweet de influencer tentando parecer profundo; é do Howard Marks, da Oaktree, no memo “Is It a Bubble?”, publicado em 9 de dezembro de 2025. 

Ele coloca preto no branco que IA virou objeto de entusiasmo enorme e que, se esse entusiasmo não virar uma bolha dentro do padrão histórico, seria inédito. 

E o que eu gosto no Marks, mesmo quando ele irrita, é que ele não precisa ser “tech guy” pra ler o comportamento humano. 

Ele olha para o mesmo fenômeno que todo mundo está olhando, mas faz a pergunta que o mercado odeia: “ok, e quem é que vai pagar a conta se isso der errado?”

O memo dele começa com um cuidado que já separa adulto de adolescente no mercado: a pergunta “tem bolha em IA?” é ruim porque mistura coisas diferentes.

Pode existir bolha no comportamento das empresas e, ao mesmo tempo, bolha no comportamento dos investidores. 

Você pode ter empresas construindo capacidade como se o mundo fosse acabar amanhã, e investidores pagando qualquer preço porque “não dá pra ficar de fora”. 

São bolhas diferentes, com sintomas diferentes, mas que se alimentam uma da outra.

A parte mais “Marks raiz” vem logo depois: bolhas não nascem da tecnologia em si. 

Bolhas nascem quando a gente aplica otimismo demais numa narrativa nova, aquela euforia que vira mania, quando a racionalidade deixa de existir.

E aí acontece o roteiro que ele diz que já viu várias vezes: surge algo transformacional, os primeiros ganham muito, os outros passam a sentir inveja e arrependimento, entra o FOMO, e o sujeito passa a comprar sem a menor ideia se o preço pago ainda permite um retorno razoável. 

Repara como isso é cruel: o mundo pode, sim, estar mudando. A tecnologia pode, sim, ser gigantesca. 

E, mesmo assim, o investidor pode destruir capital no caminho. 

No memo, ele bate nessa tecla sem romantizar: tecnologias transformacionais tendem a gerar entusiasmo e investimento excessivo, criando infraestrutura demais e preços que depois se mostram altos demais; isso acelera a adoção… e costuma terminar em perdas pra quem alimentou o processo. 

É o “progresso coletivo, prejuízo privado”.

Agora vem o pedaço que eu acho que muita gente está subestimando e aqui o Marks fica particularmente desconfortável (do jeito certo). 

O risco não precisa estar só no equity óbvio, no “quem tá na capa”. Pode estar na infraestrutura por trás, especialmente quando entra dívida no jogo.

Ele faz uma distinção simples, quase didática, que o mercado adora esquecer quando está eufórico:

dívida é para fluxo de caixa previsível e/ou ativo que dá lastro; equity é para coisa especulativa, onde você quer capturar crescimento, mas ainda não sabe como o caixa vai se comportar. 

Quando você confunde os dois, você compra problema. 

E ele dá exemplos bem diretos do “comportamento saudável” versus “comportamento doentio”: de um lado, gigantes investindo com caixa e capacidade de absorver risco; do outro, startup tomando dívida para construir data center para outra startup, ambas queimando caixa, mas levantando dinheiro como se isso fosse normal. 

Aí entra o alerta que, pra mim, é o verdadeiro fio desencapado: quando o ciclo vira “financiamento criativo”, aparecem os sinais clássicos, termos ficando mais frouxos, estruturas fora do balanço, e aquela sensação de festa que só termina quando o segurança apaga o som. 

Ele menciona até veículos fora do balanço e como essas estruturas podem mascarar dívida e risco (a história não inventou 2025: Enron já ensinou isso do jeito difícil). 

E ele ainda crava algo que deveria ser tatuado na testa de quem confunde alavancagem com inteligência:

dívida amplifica perdas quando dá errado com a mesma eficiência que amplifica ganhos quando dá certo. 

E aqui está o “plot twist” mais incômodo do texto: mesmo que a IA seja, de fato, uma das maiores tecnologias transformacionais de todos os tempos, o uso de dívida nesse processo tem potencial de piorar tudo “dessa vez”, justamente porque coloca uma engrenagem frágil por trás de algo estruturalmente incerto. 

Tá, então é bolha? Calma. 

Outubro de 2025, em entrevista, ele estava no modo “alto, mas não louco”. 

A frase é excelente porque ela mata 80% das discussões rasas de valuation: “caro e cair amanhã não são sinônimos.” 

Ou seja: valuation esticado não é relógio marcando hora de correção.

Bolha, para ele, é o estágio psicológico em que “não existe preço alto demais” e ele dizia não ver essa mania no nível crítico naquele momento. 

Em dezembro ele só faz o que gente séria faz: reconhece o padrão histórico e admite a incerteza. 

Ele literalmente diz que bolhas são melhor identificadas em retrospecto e que quase ninguém consegue afirmar com certeza se a exuberância atual é irracional, porque a IA tem potencial enorme, mas também um volume enorme de incógnitas.

Então ele recomenda o oposto do que o Instagram recomenda: nem 100% dentro, nem 100% fora. 

Uma posição moderada, seletiva e prudente, porque ir all-in sem reconhecer risco de ruína é estupidez; e ficar all-out e perder um salto tecnológico relevante também pode ser um erro. 

Traduzindo isso pro mundo real (para seu patrimônio, não para debate de bar): o risco aqui não é “ter ou não ter IA”. O risco é você ter IA do jeito errado, por motivo errado e na estrutura errada.

Eu gosto de uma regra simples que não sai de moda: não perder, para ganhar. E, num tema como esse, “não perder” começa com lucidez, não com achismo.

Então deixa eu te devolver isso como um mini-checklist, bem prático, pra você se observar:

Você sabe quanto da sua carteira hoje depende de uma narrativa (IA/tech) e quanto depende de fundamentos diversificados, com amortecedores de verdade?

A sua exposição a “vencedores prováveis” está vindo via equity (onde o upside paga o erro) ou você está, sem perceber, exposto ao risco assimétrico via dívida/estruturas/veículos que só parecem seguros quando tudo está subindo? 

Se a promessa demorar mais do que o mercado quer ou se houver overbuild e a conta de infraestrutura ficar pesada, você tem liquidez e tempo, ou você tem pressa e esperança? 

No fim, o Marks não está dizendo “vai estourar amanhã”. Ele está dizendo: entusiasmo + transformação quase sempre produzem excesso em algum lugar, e o excesso costuma cobrar juros compostos, exatamente de quem financia o exagero.

P.S.: Eu sei que essa discussão sobre “estrutura de dívida versus equity” elevou o nível da conversa. Seria um desperdício terminar um raciocínio sofisticado como esse com um checklist raso.

Por isso, melhor que um checklist é um Diagnóstico completo.

Como cada carteira tem uma exposição diferente a esses riscos “invisíveis”, não existe resposta pronta. A única forma de saber é olhando os números.

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