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Investidores perdem 93% em COEs Distribuídos pela XP

A liquidação de COEs distribuídos pela XP revela a fragilidade da relação entre produtos, distribuição e proteção do investidor.
Imagem: investidores perdem dinheiro com investimento em COE.

A liquidação antecipada de COEs distribuídos pela XP, lastreados em bonds da Ambipar e da Braskem, é um diagnóstico sobre a fragilidade da relação entre produtos complexos, processos de distribuição e a proteção do investidor de varejo.

Nesta semana, milhares de investidores viram se materializar perdas dramáticas.

Segundo as informações trazidas à luz, pessoas que tinham alocado capital no COE da XP que tinha como ativo subjacente a Ambipar chegaram a apurar prejuízos da ordem de até 93% do capital aplicado (retorno de 6,88%).

Já no caso dos COEs que tinham como ativo subjacente a Braskem, as perdas variaram entre 63% e 74% (retorno entre 26,2% e 36,97%).

Essas perdas ocorreram porque as cláusulas contratuais dos produtos previam liquidação antecipada automática caso os ativos de referência, os bonds das empresas, sofressem desvalorização superior a 50%.

Foi exatamente o que aconteceu.

Mais do que uma questão técnica, o caso expõe falhas sistêmicas na distribuição, na transparência e na percepção de risco de produtos estruturados vendidos a investidores de varejo.

O episódio escancara um problema antigo: a forma como muitos COEs são comercializados.

Em diversos casos, investidores foram levados a acreditar que esses produtos eram “semelhantes à renda fixa com proteção de capital”, quando, na prática, se trata de estruturas derivativas complexas e com risco de perda total.

Assessores, pressionados por metas de vendas e comissionamentos elevados, teriam empurrado COEs como alternativas “seguras” e “moderadas”, sem explicitar de forma clara os riscos de liquidez, volatilidade e crédito dos emissores.

Isso revela um conflito de interesses estrutural: o incentivo comercial de curto prazo supera a responsabilidade fiduciária de adequação do produto ao perfil do cliente.

Esse descompasso evidencia o déficit de educação financeira no país, mas também a superficialidade com que alguns distribuidores tratam o processo de aconselhamento de investimentos.

O que são COEs, como funcionam na prática e os cuidados que você deve ter:

COE (Certificado de Operações Estruturadas) é um produto híbrido:

combina uma parcela de renda fixa (para compor a proteção de capital, quando prevista) e uma parcela aplicada em instrumentos de renda variável ou derivativos (para dar a exposição desejada, por exemplo, à valorização de ações ou ao comportamento de bonds).

Em termos simples: uma “camada” conservadora mais uma “camada” de risco que procura gerar retorno adicional.

Estruturas comuns incluem: proteção total, proteção parcial (ex.: 80%–90% do capital) e estruturas condicionais (autocall, barreiras, gatilhos de liquidação antecipada).

A proteção existe se e quando as condições contratuais forem respeitadas até o vencimento; porém, cláusulas de liquidação antecipada e triggers de perda podem encerrar o produto antes da data originalmente prevista, cristalizando perdas.

Você pode questionar o motivo de corretoras e assessores oferecerem tantos produtos de alto risco.

A resposta reside no elevado comissionamento que esses produtos proporcionam.

Produtos estruturados, especialmente os mais complexos, costumam gerar remunerações atraentes para a corretora e para o assessor: taxas de estruturação, distribuição e comissões elevadas tornam esses instrumentos rentáveis para quem vende.

Esse modelo cria incentivos potenciais ao desalinhamento de interesses:

  • O distribuidor tem incentivo financeiro para ofertar o produto (maior receita no curto prazo).
  • O cliente pode ser classificado como “moderado” ou “conservador”, mas o produto vendido é complexo e inadequado.
  • A pressão por metas e o sistema de comissionamento podem levar a vendas apressadas e insuficiente esclarecimento de cenários adversos.

A combinação de marketing agressivo, jargão que minimiza riscos e falta de transparência sobre remuneração amplia o problema.

Quando os COEs apresentam problemas, geram impactos relevantes para os clientes, dentre os quais podemos mencionar:

Perda patrimonial imediata.

COEs liquidados antecipadamente podem devolver valores muito inferiores ao investido.

Perda de confiança.

Além do prejuízo financeiro, há impacto reputacional e psicológico que reduz a propensão a investir novamente;

Complexidade para reaver perdas. Processos administrativos e jurídicos são morosos e nem sempre garantem ressarcimento.

Considerando os eventos desta semana, entendo que é importante reforçar a postura que o investidor deve adotar na hora de fazer seus investimentos.

Nunca delegue 100% da sua tomada de decisão.

Entenda onde seu dinheiro está alocado, preste atenção às cláusulas e aos cenários possíveis para cada investimento.

Pergunte sobre comissões.

Exija transparência sobre quanto o assessor/corretora receberá pela venda do produto.

Tente evitar o investimento em produtos complexos ou em emissores com problemas idiossincráticos.

Dado o cenário atual, considero muito importante que o investidor entenda a diferença estrutural entre o modelo de remuneração dos profissionais do mercado financeiro.

Modelo de Comissionamento versus modelo de fee fixo. Sempre busque um modelo que ofereça alinhamento de interesses.

O assessor remunerado por comissão recebe por produto vendido e isso pode gerar conflito de interesse, pois a remuneração aumenta com a venda de determinados instrumentos, independentemente do melhor resultado de longo prazo para o cliente.

Já o consultor remunerado por fee (percentual sobre o patrimônio / taxa fixa) recebe uma remuneração fixa vinculada ao tamanho do patrimônio do cliente, muitas vezes a assessoria gratuita é absurdamente cara para o bolso do cliente.

Logo, existe um alinhamento natural de interesses: o consultor tem incentivos em preservar e aumentar o patrimônio do cliente ao longo do tempo.

Os eventos que aconteceram esta semana reforçam a ideia de que o mercado precisa de maturidade e responsabilidade.

O choque causado pela liquidação dos COEs da XP é um chamado de atenção claro.

Enquanto o mercado não implantar práticas mais rígidas de suitability, transparência e alinhamento de incentivos, episódios como este continuarão a minar a confiança dos investidores e a evolução saudável do mercado de capitais.

A principal mensagem do caso é que não existe rentabilidade sem risco.

Produtos que prometem “proteção” e “ganho potencial” simultaneamente merecem questionamento profundo. Desconfie de qualquer promessa de “proteção total” com rentabilidade acima da média da renda fixa.

O amadurecimento do mercado financeiro brasileiro depende menos de inovação e mais de ética, transparência e educação.

Se você é um investidor atendido por assessor de investimentos, leia, questione e prefira estruturas de aconselhamento cujo modelo de remuneração alinhe-se ao seu objetivo: preservar e fazer crescer seu patrimônio.

Por isso a importância de saber como contratar um profissional de confiança para ajudar nas decisões, um bom profissional financeiro te orientará na escolha de produtos que farão seu dinheiro crescer.

Se você deseja verificar se os ativos da sua carteira de investimentos estão alinhados ao seu perfil de investidor, faça um Diagnóstico Gratuito da sua Carteira para agendar uma consulta gratuita com um de nossos especialistas.

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