Os mercados não vivem isolados e decisões políticas costumam mexer com a precificação dos ativos de modo geral.
Gestos, discursos e medidas governamentais são a matéria-prima para a precificação de ativos no curto prazo, uma vez que alteram as expectativas de comércio, de taxas e de fluxo de capitais.
A relação entre política e mercados financeiros é uma das mais complexas e dinâmicas do sistema econômico moderno.
A política exerce uma influência muito forte e, na maioria das vezes, imprevisível, principalmente em momentos de crise.
O recente episódio envolvendo os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva durante a Assembleia Geral da ONU ilustra perfeitamente como eventos políticos podem gerar reações imediatas e significativas nos mercados financeiros.
Durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU em 23 de setembro de 2025, Trump surpreendeu ao elogiar o presidente brasileiro.
O americano disse que teve “uma química excelente” com o presidente brasileiro, “que pareceu um cara muito agradável”.
Trump revelou que os dois se encontraram brevemente e concordaram que se encontrariam na semana que vem.
Este aceno diplomático contrasta fortemente com a tensa relação que Estados Unidos e Brasil vêm tendo desde julho, quando Trump anunciou tarifas de 50% a produtos brasileiros.
A fala do presidente americano reduziu a percepção de risco diplomático e acionou fluxo comprador para ativos brasileiros.
Resultado: o dólar comercial recuou cerca de 1,1% para R$ 5,27, o Ibovespa subiu 0,91% e atingiu máxima intradiária histórica de 147.178 pontos, e as taxas futuras mostraram alívio ao longo da curva.
A sinalização de aproximação entre os dois líderes reduziu temores sobre atritos comerciais, criando um ambiente mais favorável para investimentos em ativos brasileiros.
O contexto macroeconômico favorável também contribuiu para a reação dos mercados.
O aumento da diferença entre os juros brasileiros e norte-americanos favorece a queda do dólar, especialmente após o Federal Reserve ter iniciado um ciclo de cortes enquanto o Brasil permanece com a Selic em patamar elevado.
Nesse contexto, o evento político funcionou como catalisador para acelerar movimentos que já estavam em curso.
Na hora de avaliar investimentos, é fundamental incorporar o risco político nas análises.
As decisões políticas podem afetar diretamente o crescimento do país, influenciando o mercado de investimentos e, é claro, impactando as aplicações.
A política desempenha um papel importante na volatilidade do mercado, e identificar mudanças estruturais e agir com base nessas expectativas é crucial. No entanto, é importante distinguir entre movimentos especulativos de curto prazo e mudanças estruturais nos fundamentos econômicos.
O episódio da aproximação Trump-Lula ilustra perfeitamente como eventos políticos podem afetar a precificação dos ativos no curto prazo.
Investidores que acompanham as mudanças políticas têm uma vantagem, pois conseguem antecipar os efeitos dessas ações no mercado.
Entender os movimentos políticos é, sem dúvida, uma etapa importante para compreender o funcionamento dos mercados financeiros, especialmente devido ao alto impacto que eventos e discursos de figuras públicas podem gerar no curto prazo.
Entretanto, essa leitura não é suficiente para uma análise de investimento robusta a longo prazo.
Além do cenário político, existem variáveis macroeconômicas — como juros, inflação, crescimento do PIB, situação fiscal e dinâmica internacional — que possuem papel central na precificação dos ativos.
Igualmente, os fundamentos dos próprios ativos, como lucratividade, geração de caixa, eficiência operacional, qualidade dos gestores, margens, endividamento e perspectivas setoriais, são fatores praticamente indispensáveis para avaliação de ações, FIIs, títulos de renda fixa e demais instrumentos financeiros.
O principal desafio para o investidor está em diferenciar o que é “ruído” do que é “sinal”, ou seja, separar movimentos temporários e reações de curto prazo dos acontecimentos estruturais que realmente alteram os fundamentos e o valor intrínseco dos ativos para horizontes mais longos.
É crucial contextualizar movimentos específicos, mesmo que intensos – como reações a discursos ou eventos políticos – com a análise fundamentalista e o cenário macroeconômico. Isso evita decisões precipitadas e foca em retornos mais consistentes a longo prazo.
Portanto, uma análise completa exige ir além do noticiário político, incorporando variáveis econômicas e contábeis, além de manter o foco em fundamentos e tendências de longo prazo que sustentarão o valor dos ativos independentemente das oscilações de curto prazo causadas por eventos políticos.
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Até a próxima semana.